Condutividade elétrica em descargas e impacto das conexões na eficiência de uma malha de aterramento
1.Abertura
Um dos componentes mais importantes para a segurança dos sistemas elétricos é a malha de aterramento, que assegura que as correntes de falha e descargas atmosféricas sejam direcionadas de forma eficaz ao solo. A eficácia desse escoamento depende não só do desenho geométrico da malha e da resistividade do solo, mas também — e de maneira crucial — da condutividade e dos materiais empregados nas conexões.
Este artigo aborda a condutividade relacionada a descargas elétricas, os fenômenos ligados ao escoamento da corrente no aterramento e a comparação de desempenho entre conectores feitos de liga de cobre e conectores de cobre eletrolítico com 99,9% de IACS.
2. Condutividade e descargas elétricas
Uma descarga elétrica, como as correntes de uma falta ou de um raio, é definida por:
• altíssima corrente (pode atingir centenas de kA durante descargas atmosféricas);
• extremamente breve;
• onda de frente extremamente rápida, principalmente em descargas atmosféricas.
Nessas circunstâncias, a corrente tende a seguir o caminho de menor impedância, e não apenas o de menor resistência ôhmica.
Desse modo, materiais e conexões que possuam alta condutividade e baixa reatância são essenciais para prevenir aquecimento, fusão, quebra mecânica e sobretensões perigosas.
3. Malha de Aterramento e Comportamento do Escoamento de Corrente
A malha de aterramento tem como funções principais:
Conduzir correntes de falta ou descargas ao solo com segurança.
Manter tensões de toque e passo dentro de limites seguros.
Estabilizar o potencial elétrico da instalação.
Proteger seres humanos, equipamentos e estruturas.
O escoamento da corrente em uma malha depende diretamente da continuidade elétrica entre todos os componentes da rede enterrada.
As conexões — soldadas, mecânicas ou por compressão — são os pontos mais críticos do sistema. Seu desempenho varia de acordo com o material.
4. Condutividade: Liga de Cobre x Cobre Eletrolítico (99,9% IACS)
4.1 Definição de IACS
IACS significa International Annealed Copper Standard, o padrão internacional de condutividade para o cobre recozido.
100% IACS = 58 MS/m aproximadamente, valor de referência do cobre puro.
Conectores de cobre eletrolítico 99,9% IACS apresentam condutividade próxima ao padrão máximo.
4.2 Liga de cobre
Conectores feitos em liga de cobre apresentam condutividade menor, pois ligas contêm outros elementos metálicos (zinco, estanho, níquel, alumínio etc.) que reduzem a condutividade. Dependendo da liga, a condutividade pode variar de 20% a 80% IACS.
4.3 Consequências práticas da diferença de condutividade
Característica
Conector em liga de cobre
Conector em cobre eletrolítico (99,9% IACS)
Condutividade
Baixa a média
Muito alta (≈100% IACS)
Aquecimento sob corrente de falta/raio
Maior aquecimento, podendo causar fusão
Baixo aquecimento, maior estabilidade térmica
Perdas elétricas
Mais elevadas
Mínimas
Capacidade de conduzir altas correntes de curto prazo
Limitada
Excelente
Risco de ruptura
Alto
Baixo
Vida útil
Reduzida
Alta
Resumo técnico
Conectores com menor condutividade aumentam a impedância do percurso da corrente, criando pontos quentes e provocando quedas de potencial que podem comprometer toda a malha de aterramento.
5. Por que a Condutividade do Conector é Tão Crítica?
As conexões são geralmente o ponto mais frágil do sistema. Mesmo que o condutor seja de cobre eletrolítico de excelente qualidade, se o conector for de condutividade inferior, ocorrerá:
aumento da impedância de conexão
maior aquecimento local
risco de carbonização e degradação mecânica
alteração do caminho de escoamento da corrente
risco de falhas catastróficas
Uma conexão inadequada pode transformar um sistema projetado para suportar 50 kA em algo que suporta apenas 5 a 10 kA antes de falhar.
6. Conexões por Compressão: Vantagens e Considerações
Conectores por compressão de cobre são amplamente utilizados em instalações de aterramento, desde que atendam:
material: cobre eletrolítico
pressão de compressão adequada (uso de ferramentas certificadas)
conformidade com normas NBR e IEC aplicáveis
Quando se utiliza uma liga de cobre com menor condutividade, a área de contato se torna mais crítica, e a capacidade de dissipar calor diminui.
7. Consequências de Uma Malha de Aterramento Ineficiente
Uma malha com conexões de baixa condutividade pode apresentar:
7.1 Sobretensões perigosas
Tensões de toque e passo acima dos limites estabelecidos pela NBR 15751.
7.2 Risco à vida humana
Choques elétricos fatais são possíveis quando o valor de impedância do aterramento é elevado ou quando há pontos com alta resistência.
7.3 Danos a equipamentos
queima de transformadores
danos em eletroeletrônicos sensíveis
falhas em sistemas de comunicação e automação
perda de confiabilidade de DPS e SPDA
7.4 Falha total da malha em descargas de raio
A corrente pode encontrar “pontos de estrangulamento” e romper conexões, anulando completamente a proteção da instalação.
8. Conclusão
Para garantir o desempenho adequado de uma malha de aterramento — especialmente sob correntes elevadas e transitórias como descargas atmosféricas — é essencial que todas as conexões possuam condutividade igual ou superior à dos condutores.
Conectores fabricados em cobre eletrolítico 99,9% (≈100% IACS) oferecem a menor impedância, maior capacidade térmica e maior confiabilidade.
Já conectores feitos de ligas de cobre, com condutividade reduzida, representam riscos reais de superaquecimento, falhas mecânicas e degradação do sistema como um todo.
Uma malha de aterramento é tão forte quanto sua conexão mais fraca. Por isso, materiais de alta condutividade e instalação adequada são indispensáveis para a proteção de vidas, equipamentos e infraestrutura.
Influência Técnica e de Engenharia dos Tipos de Cabos em uma Malha de Aterramento (Cobre Eletrolítico × Aço Cobreado × Alumínio Cobreado × Aço)
A performance de uma malha de aterramento depende diretamente do material do cabo, sua condutividade, capacidade térmica, comportamento em descargas atmosféricas, durabilidade e resistência mecânica.
A seguir, a avaliação técnica completa de cada tipo de cabo.
1. Cabo de Cobre Eletrolítico (≈100% IACS)
✔ Condutividade
Maior entre os materiais usados em aterramento.
~100% IACS → referência mundial.
Garante rápida dissipação de correntes de falta e descargas atmosféricas.
✔ Comportamento térmico e em descargas
Excelente capacidade térmica.
Suporta correntes impulsivas (raios) sem deformações.
Mantém baixa impedância → reduz tensões de passo e toque.
✔ Resistência e vida útil
Ótima resistência à corrosão.
Vida útil em solo normal: 30–40+ anos.
✔ Aplicações ideais
Subestações
Indústrias críticas
Malha principal de SPDA
Sistemas sensíveis
✔ Conclusão
Melhor desempenho elétrico e maior confiabilidade geral.
2. Cabo Bimetálico Aço Cobreado (AC – Steel Copper Clad)
✔ Condutividade
Condutividade superficial garantida pelo cobre.
Condutividade efetiva: 20–40% IACS, dependendo da espessura do cobre.
✔ Comportamento em corrente de raio
Muito bom desempenho devido ao efeito pelicular (corrente majoritariamente na camada de cobre).
Melhor que CCA para surtos devido à robustez estrutural.
✔ Resistência mecânica
Muito alta.
Ideal para malhas extensas e locais com esforços.
✔ Corrosão e vida útil
Boa resistência devido ao revestimento de cobre.
Vida útil: 20–30 anos.
✔ Aplicações
Linhas longas
Ferrovia, rodovias, redes de distribuição
Malhas secundárias ou extensões
✔ Conclusão
Ótimo equilíbrio entre custo, desempenho elétrico superficial e resistência mecânica.
3. Cabo de Alumínio Cobreado (CCA – Copper Clad Aluminum)
✔ Condutividade
Núcleo de alumínio (≈61% IACS)
Camada externa de cobre (variável conforme espessura)
Condutividade efetiva: 40–62% IACS
→ Melhor que aço, inferior ao cobre e ao CCA em densidade de corrente sustentada.
✔ Desempenho em descargas atmosféricas
Muito bom para impulsos devido ao efeito pelicular no revestimento de cobre.
Menor robustez térmica que o aço-cobreado em eventos extremos.
✔ Resistência mecânica
Superior ao alumínio puro, inferior ao aço e ao cobre.
Mais leve → vantagem logística.
✔ Corrosão e compatibilidade
Este é o ponto mais crítico:
Se a camada de cobre for danificada → corrosão galvânica acelerada entre Cu–Al.
Corrosão avança de dentro para fora e pode gerar falhas ocultas.
Vida útil:
Em solo normal: 10–25 anos, dependendo do encapsulamento.
Em solo agressivo: pode falhar rapidamente.
✔ Aplicações recomendadas
Interligações longas onde peso é crítico
Partes aéreas ou protegidas
SPDA quando a camada de cobre é espessa e preservada
❗ Aplicações NÃO recomendadas
Malha principal enterrada em solo agressivo
Subestações, hospitais, data centers
Locais onde corrosão galvânica é provável
✔ Conclusão
Bom para impulsos e leveza, porém limitado em durabilidade e capacidade térmica contínua.
4. Cabo de Aço (Steel Wire)
✔ Condutividade
Muito baixa: 5–8% IACS
Não adequado para circulação de correntes de falta ou de raio.
✔ Comportamento térmico
Alta suscetibilidade a aquecimento excessivo.
Pode sofrer fusão em descargas atmosféricas.
✔ Corrosão
Aço puro corroi rapidamente em solo.
Vida útil: 3–10 anos, dependendo da umidade.
✔ Aplicações
Uso estrutural (estais, tirantes)
Nunca recomendado como condutor principal de malha.
✔ Conclusão
Material estrutural, não material elétrico. Alto risco se usado na malha.
5. Comparação Técnica Geral
Característica
Cobre Eletrolítico
Aço Cobreado
Alumínio Cobreado
Aço
Condutividade (IACS)
≈100%
20–40%
40–62%
5–8%
Efeito pelicular (raios)
Excelente
Excelente
Muito bom
Ruim
Capacidade térmica
Muito alta
Alta
Média
Baixa
Resistência mecânica
Boa
Muito alta
Média
Muito alta
Corrosão em solo
Excelente
Boa
Moderada a crítica
Ruim
Vida útil típica
30–40+ anos
20–30 anos
10–25 anos
3–10 anos
Adequação como malha principal
Excelente
Boa
Moderada
Ruim
6. Influência Direta destes Materiais na Engenharia da Malha
6.1 Impedância total da malha
Cobre: menor impedância → melhor dissipação
Aço: maior impedância → piores tensões de toque e passo
CCA: intermediário
Aço cobreado: bom comportamento superficial
6.2 Distribuição de correntes
Materiais de maior condutividade atraem mais corrente
Misturar materiais pode causar:
sobrecarga em partes da malha
aquecimento localizado
falhas prematuras
“gargalos elétricos”
6.3 Capacidade térmica
Em faltas prolongadas:
cobre → se mantém estável
CCA → risco moderado, devido ao alumínio
aço → risco alto de falha térmica
6.4 Durabilidade e corrosão
Cobre é estável e neutro
Aço cobreado depende da integridade da camada de cobre
CCA sofre corrosão galvânica se a camada de cobre é rompida
Aço puro é sempre crítico em solo
7. Conclusão Master
✔
Cobre eletrolítico
→ Melhor material geral. Alta condutividade. Alta durabilidade. Ideal para malhas críticas.
✔
Aço cobreado
→ Excelente custo-benefício, alta resistência mecânica e boa condução superficial.
→ Recomendado para extensões e SPDA.
✔
Alumínio cobreado (CCA)
→ Bom desempenho em correntes impulsivas e ótimo peso/custo.
→ Vulnerável à corrosão galvânica e menor robustez térmica.
→ Recomendado apenas em situações controladas.
❌
Aço
→ Material estrutural, não adequado como condutor de malha.